domingo, 11 de janeiro de 2009

MAHATMA JIMI - “Ó AMIGO, EU NÃO FIZ NADA!”

Esta bizarra história desenrolou-se há uns bons anos atrás, nos saudosos tempos de faculdade e o enredo centra-se nos seguintes personagens: Jimi (eu próprio), Eládio e Trunfas - O Triunvirato do costume. Só faltava Freezer, o "Animal" (ou o "Predador") que, com certeza, andava à caça de Búfalo.
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Encontrávamo-nos os 3 na Ribeira do Porto, desfrutando de mais uma intensa noite de boémia (ou seria auto-destruição?) quando, depois de um sprint de incontáveis shots nos míticos Saloon e Prioridade, nos dirigimos, a pé, para a festa de faculdade que nessa noite decorria no Mexcal.
A caminhada junto ao Douro foi longa, permitindo ao processo de “Zé Manelização” uma cómoda e sólida instalação durante o percurso…
A dada altura, resolvemos fazer um Pit Stop para a obrigatória micção. Eládio, portador de um sistema genito-urinário menos desenvolvido, termina primeiro e resolve esperar encostando-se, estilosamente (como é seu apanágio), a um Mercedes.
Entretanto, surge o proprietário do veículo, ferido no seu orgulho:
- Pá, porque é que estás encostado ao meu carro? – pergunta o energúmeno.
Trunfas, indivíduo de 1 metro e 95, é um “calmeirão” e pacifista por natureza, mas tem uma faceta de “Dr Jekyll, Mr Hyde” despoletada, precisamente, pelo álcool. E, naquele momento, já estávamos claramente perante “Mr Hyde”!
- Mas ele fez alguma coisa ao carro? – riposta lá do alto Trunfas, encostando o peito ao crânio dono do carro, um balofo “quarentão” de 1 metro e 62.
Depois de uma “troca de galhardetes” sem consequências físicas, surgem, repentinamente, cerca de 10 defensores do “quarentão” oprimido, sedentos de “sangue”!
O meu grau “Zé Manelino” era tal, que não me permitia analisar os factos com a clareza necessária, pelo que estava a interpretar tudo de um modo muito particular, tranquilo e, consequentemente, perigoso, já que contrastava com a gravidade da situação. Aliás, tive a sensação de o meu coração não ter aumentado nem uma batida por minuto…
Para que se perceba um pouco melhor, o que me passava pela cabeça, perante aquele cenário, era algo deste género:
“Hum, isto está a “aquecer”… Não há volta a dar, vai “cair molho”, de certeza... Ei, pá... A última coisa que me apetece, neste momento, é “andar à porrada”… Além disso, eles são 10, cheios de vontade e nós somos 3. Paciência, não há nada a fazer, vou levar na cara… Olha, olha, o Eládio e o Trunfas já estão a levar uns socos bem assentes...”
Nisto, vejo a minha introspecção interrompida pelo dono do carro que se dirigia a mim, obeso de fúria e a toda a velocidade!
De mãos nos bolsos e sem esboçar qualquer reacção física (qual Mahatma Gandhi) disse-lhe:
- Ó amigo, eu não fiz nada!...
O homem estacou, estupefacto, à minha frente, eu virei calmamente costas e afastei-me, ileso…
Entretanto, Eládio e Trunfas já se tinham esquivado da confusão que terminou com uma chuva… um orvalho, talvez… de cóios** sobre nós…
Como estávamos próximos do destino, fomos, embriagados e desnorteados, para a porta do Mexcal comentar, ruidosamente, os acontecimentos, pelo que, quando tentámos efectivar a entrada, fomos barrados pelos seguranças, atentos ouvintes da nossa peripécia.
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Ainda hoje, Eládio e Trunfas, quando se relembra este episódio, acham que eu também devia ter “enfardado”, não sei muito bem porquê… Dizem eles que por solidariedade…
Eu prefiro pensar que a “Zé Manelice” me permitiu, com uma simples frase, devolver um homem à razão…
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Ser um “Zé Manel” às vezes compensa!
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** Se não sabe o que é um Cóio, devia saber...

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